Os efeitos do poder e a gestão das organizações

De acordo com as evidências científicas mais atualizadas, o poder faz com que as pessoas tendam a:
– Priorizar seus próprios objetivos e desejos, em detrimento dos objetivos e desejos das outras pessoas
– Deixar de considerar as perspectivas de terceiros
– Ser menos cortezes
– Agir de forma mais impulsiva e procurar satisfazer caprichos
– Desconsiderar os sentimentos das outras pessoas
– Ter maior probabilidade de interromper as outras pessoas em conversas
– Olhar menos nos olhos de outras pessoas – que ocupam menor posição de poder – quando estas estão falando (existe até um coeficiente para isso… quem está em posição de poder demanda o olhar do “subordinado”, mas gasta bem menos tempo olhando para ele)
– Agir de forma mais hostil
– Ter seriamente debilitada a mesma inteligência social que as levaram inicialmente à posição de poder (fenômeno conhecido como o paradoxo do poder – a pessoa que chegou ao poder sendo amigavel, atenta aos outros, deixa de sê-lo)
– Agir para preservar seu poder, atuando até agressivamente quando percebem que seu poder está ameaçado
– Considerar relações que podem ser amistosas como meramente instrumentais, enfraquecendo a qualidade dos relacionamentos sociais de que participam
– Julgar as outras pessoas de forma superficial
– Racionalizar comportamentos anti-éticos
– Ter distorcida sua habilidade para analisar informações complexas e tomar decisões com base nessas informações (adotando uma visão que ignora nuances)
 – Superestimar sua virtude moral e, portanto, repelir maior transparência ou maior monitoramento sobre suas ações.
Agora pensem em todas as pessoas que vocês, ao longo da carreira profissional ou mesmo da vida, viram mudar da água para o vinho quando assumiram uma posição de poder. Ou pensem naqueles que vocês já conheceram em posição de poder, nos diversos contextos (familiar, organizacional, social, político).
Reflitam ainda: É fácil ocupar posição de poder?
Evidentemente, nem todo o mundo que terá algum grau de poder exibirá parte ou mesmo todos os efeitos listados acima. O fato de a força situacional ser invisível, imperceptível e fortíssima não quer dizer que seus efeitos serão inevitáveis. Ou pelo menos as piores manifestações dos efeitos acima não necessariamente vão se materializar, mas as tendências existirão. É por isso que grupos sociais na gestão de qualquer organização precisam estar atentos e precisam estruturar processos de trabalho e de decisão que levem em conta essas tendências.
Os conflitos nos grupos sociais são inevitáveis. Melhor do que imaginar um cenário absolutamente irreal (sem conflitos) é aceitar esse fato (potencialmente doloroso) e tomar medidas para lidar com conflitos , com as naturais divergências de opinião e com os potenciais efeitos do poder sobre as pessoas.

Social marketing vs. behavioral economics

I see a great deal of overlap between social marketing and behavioral economics and some differences.
Both disciplines rely on making things simpler. As I use to say, if you want to make a behavior popular you need to make it screaminglyconspicuously simple and easy. This focus fits usual interventions inspired by both approaches.
Another similarity is applying the same mindset notwithstanding differences in the tool name. In most cases I cannot see how choice/social architecture differs in nature from deploying some of the social marketing techniques (removing barriers, place strategies) to facilitate the performance of the target behavior. For instance, a program like Save More Tomorrow could be conceived under either conceptual umbrella.
In “The Political Brain”, Drew Westen stresses the role of associations and narratives (woven through emotional processes) in deciding the fate of political candidates. Of course marketers easily see the importance of associations and narratives for any brands or attitudinal objects. The way I see it, behavioral economics has achieved prominence mostly propelled by a strong narrative (and related metaphor): the David that overcame the Goliath (traditional economics – or better – rational homo economicus) destroying in the process one more facet of the idealistic vision of human beings (a trend centuries old). This narrative was strengthened by the Nobel Prize won by Daniel Kahneman in 2002 and the initial contempt (still existent) the discipline faced in traditional academics departments. Richard Thaler’s work with UK government and the building of a practical framework (Test, Learn, Adapt is their motto) to extend scientific method and mindset to pressing public issues has added to their growing popularity. The more common intuition is contradicted by the results of their experiments the more behavioral economics demonstrates the advantage of the scientific method (and increases its fame).
Behavioral ecomomics has discovered some fundamental truths about human decision making and behavior (beginning with Kahneman and Tversky’s Prospect Theory and its offsprings: framming effects, loss aversion, mental accounting, hyperbolic discounting and so on). In turn, the body of knowledge and the prestige the discipline gathered over time gave birth to specific ideas to tackle important public issues and well-succeeded interventions. But behavioral economists have been drawing heavily on other streams of research on human behavior, like (broadly speaking) social psychology. They seem to be successful in integrating theories and findings in areas like emotions, mapping, dual-systems, social norms, choice overload, implementation intentions, fairness, construal and the identifiable victim effect. I think a great deal of their deserved reputation comes from this integration. We are all aware of Cialdini’s (and related researchers) work on social norms. Dual-systems approach (System 1/System 2) has been researched by scholars under the psychology/philosophy of mind tradition, like Keith Stanovich (University of Toronto) and colleagues. And so on. But few practical approaches have been developed besides behavioral economics and social marketing.
I see social marketing as the most powerful social technology to address the social problems faced by our societies. A bit unlike behavioral economics, it has a parsimonious and flexible toolbox that can easily accommodate and integrate the different theoretical avenues that offer insights on human behavior. Jeff French’s paper has important points. Overall, social marketing is a more encompassing approach. From my humble point of view, however, I feel we need a more compelling narrative. Last month I read a recent book on tax-related behavior. It had several mentions to behavioral economics. It did mention segmenting taxpayers (something developed countries have been doing for more than a decade) – but there was no mention to marketing as inspiring that approach. I feel we need a better positioning.
The challenge is enormous and daunting, but I see it as feasible as the discipline matures.
There are important streams of research calling for some kind of integration – even if imperfect. I cite Self-Determination Theory (and one recent practical offspring: gamification), research on Self-Regulation and self-control (with promising understanding of behavior evolution and maintenance – a great advance over transtheoretical model – I mentioned it briefly in my recent paper in JSM), positive psychology, applied neurology… the list of course is not comprehensive.
I see the challenge as threefold: develop a compelling narrative, integrate findings from promising streams of research and dialogue with behavioral economists – given their prominence and given what seems to be lack of knowledge about social marketing. This open dialogue and the trans-disciplinary approach can enrich our discipline, in my opinion.

Economia comportamental e gestão

http://www.businessinsider.com/cognitive-biases-2014-6

Essa é uma lista de 58 vieses que nos acometem nas pequenas e grandes decisões que tomamos, na forma como funcionamos no cotidiano. A lista nem está completa, faltam alguns vieses importantes. O mais impressionante disso tudo é que nós não percebemos que somos sujeitos a ele (o que, por si só é um viés, o bias blind spot).

Vieses cognitivos são o ganha-pão da economia comportamental, ramo do conhecimento que nasceu da psicologia e que gerou um prêmio Nobel (de economia) a seus fundadores.

Vieses cognitivos afligem a gestão das organizações de forma poderosa e imperceptível. As consequências costumam ser sérias. Apenas recentemente a Administração passou a prestar atenção nisso. Porém, ainda contam-se nos dedos as soluções gerencias (“reparos cognitivos”) para lidar com eles.

Não se espantem se perceberem que os erros se repetem na gestão das organizações que nos afetam. Não apenas se repetem, como se repetem da mesma maneira, isto é, são sistemáticos. É importante prestarmos atenção a influências sistêmicas e situacionais. O problema raramente são as pessoas.

Sobre salvadores da Pátria

Um dos experimentos sociais de maior impacto no século XX foi conduzido não em um laboratório, mas em uma sala de aula na década de 60, pela professora Jane Elliott. Durante uma semana, ela separou seus alunos em dois grupos: os de olhos azuis e os de olhos castanhos. Segundo ela, intencionalmente citando supostas evidências científicas, os primeiros eram superiores e, assim, passaram a ter diversos privilégios, enquanto os segundos eram tratados como inferiores. Os alunos de olhos azuis logo passaram a maltratar os do outro grupo. Alguns dias depois, ela, dizendo ter cometido um engano, reverteu o exercício, dizendo que agora os alunos de olhos castanhos eram os superiores. O que fizeram estes? Passaram a tratar os alunos de olhos azuis com desprezo e comportamentos similares aos que tinham sido tratados.
Embora esse exercício seja sempre citado como um exemplo de como é fácil criar e perpetuar a discriminação entre grupos, é também um exemplo de como grupos que se sentem “dominados” ou injustiçados tendem a repetir os mesmos comportamentos dos grupos que antes lhe causavam sofrimento, quando a situação se inverte.
Por isso, é sempre recomendável tomar cuidado com o discurso de salvadores da Pátria.

Conflitos no trabalho

Vamos reconhecer o inevitável: Em todo grupo de trabalho há potencial para conflitos e eles de fato ocorrem.

Como evitar que um conflito saia de controle?

Esse pequeno artigo (http://www.gsb.stanford.edu/news/headlines/lindred-greer-how-conflict-goes-viral), divulgado no boletim da Universidade de Stanford, aconselha que o conflito seja identificado em seus estágios iniciais, que a causa real do conflito seja investigada e que ele seja contido por meio de uma intervenção construtiva, sem viés. São 3 dicas bem simples. Vale a pena ler.

A caverna de Platão e a gestão

Um problema, conhecido dos principais estudiosos da Administração (e pouquíssimo conhecido na prática das organizações) é o chamado groupthink, o pensamento único coletivo. Trata-se do consenso quase automático que se forma em torno de ideias esposadas por líderes da organização, que é alimentado por alguns vieses importantes. Em primeiro lugar (…) Leia o artigo completo aqui.

Os conceitos de direita e esquerda ainda são válidos?

Leitor, dependendo de sua idade, você talvez se lembre de pesquisa feita com congressistas brasileiros há umas duas décadas, em que a maioria esmagadora se declarava “de esquerda”. Declarar-se de direita no Brasil sempre pegou mal e mesmo quem proclamava valores liberais (caso de partidos como PL, PFL etc.) na prática portava-se como replicador das piores práticas patrimonialistas, sem preocupação com aplicação de seus supostos ideais. Ser “de esquerda” sempre foi sinônimo de preocupação com os mais pobres e era um atestado natural de bondade. Ser “de direita” sempre significou (aos olhos de quem assim se intitulava) preocupação com a pátria, com a família etc. O diálogo em termos comuns era e ainda é impossível, pois cada lado vê o outro como amoral. Depois que a “esquerda”/classe operária finalmente chegou ao poder (e aqui incluo não apenas o PT, mas também parte do PSDB), não demonstrou, na minha visão, nenhuma capacidade transformadora (ou o que, no jargão da administração, é conhecido como liderança transformadora): Aliou-se gostosamente aos donos do poder de fato, reproduziu as mesmas práticas fisiológicas e patrimonialistas; enfim, aderiu, como um Ulisses desamarrado, ao inescapável e doce canto do poder. Podem argumentar que, com a esquerda no poder, o estrato menos favorecido da sociedade finalmente teve vez (sim, teve!). Mas a ideia de um imposto de renda negativo (que germinaria no nosso conhecido bolsa-família) é uma ideia fortemente liberal, defendida por Friedman e Hayek. Saindo desse atalho e voltando aonde quero chegar: Ainda que a prática do poder tenha revelado a nudez da chamada esquerda brasileira, seu discurso foi objeto de um “retrofit” (usando um termo do mercado imobiliário). Para fazer frente ao desconforto cognitivo gerado entre ideais nobres do passado e práticas espúrias e para sustentar a permanência do poder (apostando na força de uma estória messiânica – nós, do bem, versus eles, os conservadores atrasados, o mal), temas clássico do discurso esquerdista como a luta de classes ganharam nova roupagem (em alguns casos, claramente ridícula, como a tentativa de atribuir a reação aos rolezinhos ao “racismo da elite branca”). A classificação entre direita e esquerda ainda é útil? Acredito que não. Acredito que de um ponto de vista racional, o melhor é buscar ajuda na ciência. O estudioso da psicologia da moral Jonathan Haidt construiu uma teoria que é compatível com proposições de dois grandes antropólogos especializados na mesma área (Richard Shweder e Alan Fiske) que mostra que é possível classificar grupos sociais e sociedades de acordo com a adesão desses grupos a diferentes conjuntos de valores morais universais. Essa classificação permite identificar claramente, por exemplo, que liberais e conservadores nos EUA olham o mundo e o Estado por lentes claramente distintas (que vão além da simples dicotomia individualismo x coletivismo) e que não existe, na prática, um ambiente de diálogo comum. A teoria e as evidências permitem observar claramente que existe um continuum que separa os grupos políticos e esse continuum pode ser separado grosso modo em duas metades: De um lado, estão aqueles que entendem que o Estado é o supremo mediador de todas as relações sociais e econômicas (o que no Brasil coloca no mesmo saco partidos como o PT e o PMDB, Lula e Sarney) e, de outro lado, estão aqueles que entendem que o Estado tem o papel de garantir valores supremos (família, pátria, religião), mas não tem o direito de se meter em aspectos da vida social em que indivíduo deve ter primazia (essa metade estaria representada no Brasil por gente como os economistas Rodrigo Constantino e Armínio Fraga, o articulista Reinaldo Azevedo e o Partido Novo). Como eu disse, as dimensões que dão origem a essa distinção são um pouco mais sutis. Mas, em resumo, entendo, sim, que elas permitem um modelo bem mais refinado para enxergar a realidade política e social do que a velha dicotomia direita/esquerda. E (assunto para outro texto) a existência dessa dicotomia não implica uma valorização moral, isto é, não implica necessariamente que um dos lados é o melhor ou o detentor da verdade universal. Isso porque frequentemente os princípios e dogmas que orientam essas visões de mundo são defendidos mesmo em afronta às evidências científicas. Para ficar em um exemplo, os poucos conservadores brasileiros têm defendido uma bandeira que foi religiosamente hasteada nos EUA por John Lott (baseado em dados cuja metodologia foi severamente questionada), que é o direito dos indivíduos portarem armas de fogo. Uma abordagem utilitarista (que é a que eu defendo em casos como esse), ancorada em evidências cuidadosamente estudadas, rejeitaria claramente essa medida. Volto, quando der, ao tema.

Quando sua opinião depende do que lhe interessa

“It is difficult to get a man to understand something, when his salary depends upon his not understanding it!” Upton Sinclair, escritor, falando de um fenômeno que viria a ser conhecido na literatura de psicologia social como viés de confirmação, self-serving bias ou my side bias, dependendo do caso. O fenômeno é mais poderoso na medida em que essa influência ocorre basicamente de forma automática e não consciente.

Como as pessoas se corrompem?

– Como as pessoas se corrompem?
– Por que, na maior parte dos casos, cometemos o chamado erro fundamental de atribuição (“fiz porque as circunstâncias me levaram a isso, mas ele fez porque é má pessoa” – aqui associado com o self-serving bias)?
– Como ocorre a persuasão?
– De onde surge a agressão?
– Quais são as causas dos conflitos?
– Por que as pessoas exercem menos esforço em grupos maiores?
– Quais são as raízes do preconceito?
– Por que o ditado de que “os opostos se atraem” está errado?
Essas são algumas perguntas essenciais que são respondidas pela ciência do comportamento humano. Para quem quer boa parte das respostas, recomendo este livro aqui (Exploring Social Psychology, by David Myers). Comprei para usar em aulas futuras. Já conhecia a maioria das pesquisas clássicas ali abordadas, mas fiquei surpreso pela qualidade do material (replicações atuais das mesmas pesquisas são apresentadas) e pela abrangência dos temas reunidos. O livro, na verdade, é uma espécie de livro-texto resumido (o autor tem outros livros-textos em psicologia e psicologia social). E, por isso, é bastante didático. O livro é caro (90 dólares), mas garanto que vale cada centavo.
Fica a dica.

 

Valorização dos professores: a exceção que confirma a regra?

A coluna de Gustavo Ioschpe na Veja desta semana defende uma abordagem racional, baseada nas evidências científicas, para os problemas da educação brasileira e oferece algumas receitas – com a maioria das quais eu concordo. Porém, temo que ele tenha incorrido no que Madsen Pirie chama, em seu divertido livro*, de falácia da exceção que confirma a regra. Para Ioschpe o fato de alguns poucos países (um caso notório, imagino, é a Finlândia) terem alcançado o enorme sucesso em seu sistema educacional com base na atração dos mais talentosos para a docência seria a exceção que confirma a regra (a regra, no caso, seria a atração de candidatos medianos). Será que essa é a exceção que “confirma” a regra ou será que estamos diante de uma abordagem alternativa para o mesmo problema, ainda que seja uma abordagem adotada por poucos países? Como diz Pirie, a falácia da exceção que confirma a regra é frequente em análises binárias de realidades que são complexas. Ioschpe é bem intencionado, mas não estou convencido de sua argumentação nesse ponto. Que fique claro também: não tenho dúvidas de que o problema educacional brasileiro é, em sua essência, um problema de gestão e de escolhas políticas equivocadas (como a incrível inversão de prioridades com a “gratuidade” no ensino superior – uma das raízes do holocausto social brasileiro).

Salários e motivação intrínseca. Um país em que os salários mais altos no poder público são pagos, via de regra, a profissionais da área jurídica, enquanto os salários de professores do ensino básico público são, em cidades como São Paulo, frequentemente inferiores a de profissionais liberais com pouca formação, parece muito longe de construir as bases para um desenvolvimento sólido e sustentável. Talvez a relação entre remuneração e atração dos melhores profissionais não seja linear: talvez haja um patamar mínimo de remuneração que precise ser alcançado para que um número expressivo de professores de potencial sucesso seja atraído para a carreira. A motivação para o comportamento vem em graus, como ensina a Teoria da Autodeterminação e as evidências cavalares que a suportam. Com salários mais baixos mesmo em relação a outras profissões de valorização social mediana (falo especialmente do cenário econômico de São Paulo), só aqueles com grau elevado de motivação intrínseca tenderiam a ser atraídos para a profissão – aqueles que enxergam a profissão como um “chamado”. Nessa situação, outro perfil de profissionais também tende a ser atraído: aquele que vê a profissão apenas como “apenas” um trabalho.

Independente da orientação motivacional que os atrai, é preciso ainda levar em conta que a motivação no trabalho é uma combinação da influência de diversos fatores, que mudam com o passar do tempo. Em outras palavras, profissionais que entram motivados (em diferentes graus) podem perder sua motivação para fazer um bom trabalho se diversos fatores dinâmicos não forem bem gerenciados ao longo do tempo. Dentre esses fatores, incluem-se as possibilidades de controle sobre o trabalho (autonomia – que não significa independência), a administração de justiça no ambiente (refiro-me aqui aos conceitos de organizational justice) e a possibilidade de desenvolvimento profissional e aprendizado. De longe, desconfio que o sistema educacional público brasileiro, além das gritantes falhas de gestão, é também uma máquina de desmotivar professores em série. Além da provável ausência de gestão adequada de pessoas, lemos nos jornais que não se pode expulsar alunos reiteradamente mal comportados e agressivos (corrijam-me se estiver enganado), existem ameaças morais e físicas por parte de alguns alunos (quando não agressões), não existe segurança adequada dentro e fora da escola etc. Eu ficaria surpreso com a notícia de que existe um percentual razoável de professores que permanecem realmente motivados a despeito de todos esses fatores. Não acredito.

O exemplo finlandês, descrito no livro do Sahlberg**, oferece lições que independem do abismo que nos separa economica, cultural e socialmente daquele país. Trata-se de um sistema que tem um funil apertado para selecionar os pretendentes à carreira no magistério (e que tem um programa invejável de formação profissional). Mais ou menos como acontece nas carreiras públicas mais disputadas no Brasil. Um sistema como esse pode ser sim uma boa alternativa para os problemas da educação brasileira (ainda que apenas mais um ingrediente na solução desses problemas e esteja longe de ser suficiente) e não a exceção que confirma a regra.

Deixando de lado o artigo de Ioschpe e falando de maneira geral, preocupa-me um pouco quando leio receitas para corrigir os problemas da educação que colocam muito peso no comportamento individual do professor. Comete-se um erro que em psicologia social é conhecido como erro fundamental de atribuição, que significa ignorar todas as influências sistêmicas sobre o comportamento do indivíduo – frequentemente as de maior peso causal.

*How to Win Every Argument: The Use and Abuse of Logic (Bloomsbury Academic, 2007)

**Finnish Lessons: What Can the World Learn from Educational Change in Finland? (Teachers Collge Press, 2011)

Post escrito em 21/7/2013.