Desafios da gestão e desafios dos relacionamentos

Seguem duas indicações de rápidas leituras bem interessantes.

A primeira delas, da consultoria brasileira Amana-Key, resume com rara felicidade os principais desafios que toda organização enfrenta nos dias de hoje e para os quais ainda não há soluções disseminadas, embora haja alguns caminhos promissores. Segue o link:  www.amana-key.com.br/newsletters/jul2014

A segunda indicação trata dos efeitos no nosso cérebro da difícil arte de lidar com pessoas, em especial no que diz respeito a dar (e receber) feedback negativo e positivo. O que se sabe é que os efeitos de uma crítica mal feita são duradouros e muito mais poderosos do que os de um elogio. Não se trata de não dar feedback negativo às pessoas (em qualquer relacionamento!), mas sim da maneira correta como isso deveria ser feito. Como está claro no texto a seguir, há poucas coisas mais prejudiciais a um relacionamento de qualidade de longo prazo do que a pessoa que entra em discussões com opiniões já formadas, preocupada apenas em fazer com que os outros a aceitem e que não consegue ouvir e ter empatia com outros pontos de vista. Vale a leitura também (é curto) e a reflexão: http://blogs.hbr.org/2014/06/the-neurochemistry-of-positive-conversations/

Os efeitos do poder e a gestão das organizações

De acordo com as evidências científicas mais atualizadas, o poder faz com que as pessoas tendam a:
– Priorizar seus próprios objetivos e desejos, em detrimento dos objetivos e desejos das outras pessoas
– Deixar de considerar as perspectivas de terceiros
– Ser menos cortezes
– Agir de forma mais impulsiva e procurar satisfazer caprichos
– Desconsiderar os sentimentos das outras pessoas
– Ter maior probabilidade de interromper as outras pessoas em conversas
– Olhar menos nos olhos de outras pessoas – que ocupam menor posição de poder – quando estas estão falando (existe até um coeficiente para isso… quem está em posição de poder demanda o olhar do “subordinado”, mas gasta bem menos tempo olhando para ele)
– Agir de forma mais hostil
– Ter seriamente debilitada a mesma inteligência social que as levaram inicialmente à posição de poder (fenômeno conhecido como o paradoxo do poder – a pessoa que chegou ao poder sendo amigavel, atenta aos outros, deixa de sê-lo)
– Agir para preservar seu poder, atuando até agressivamente quando percebem que seu poder está ameaçado
– Considerar relações que podem ser amistosas como meramente instrumentais, enfraquecendo a qualidade dos relacionamentos sociais de que participam
– Julgar as outras pessoas de forma superficial
– Racionalizar comportamentos anti-éticos
– Ter distorcida sua habilidade para analisar informações complexas e tomar decisões com base nessas informações (adotando uma visão que ignora nuances)
 – Superestimar sua virtude moral e, portanto, repelir maior transparência ou maior monitoramento sobre suas ações.
Agora pensem em todas as pessoas que vocês, ao longo da carreira profissional ou mesmo da vida, viram mudar da água para o vinho quando assumiram uma posição de poder. Ou pensem naqueles que vocês já conheceram em posição de poder, nos diversos contextos (familiar, organizacional, social, político).
Reflitam ainda: É fácil ocupar posição de poder?
Evidentemente, nem todo o mundo que terá algum grau de poder exibirá parte ou mesmo todos os efeitos listados acima. O fato de a força situacional ser invisível, imperceptível e fortíssima não quer dizer que seus efeitos serão inevitáveis. Ou pelo menos as piores manifestações dos efeitos acima não necessariamente vão se materializar, mas as tendências existirão. É por isso que grupos sociais na gestão de qualquer organização precisam estar atentos e precisam estruturar processos de trabalho e de decisão que levem em conta essas tendências.
Os conflitos nos grupos sociais são inevitáveis. Melhor do que imaginar um cenário absolutamente irreal (sem conflitos) é aceitar esse fato (potencialmente doloroso) e tomar medidas para lidar com conflitos , com as naturais divergências de opinião e com os potenciais efeitos do poder sobre as pessoas.

O fetiche pelo bônus

É sintomático que o governo paulista tenha chamado o desconto na conta de água de bônus. É tão bonito chamar qualquer coisa de bônus. Os governos precisam sempre cuidar da gestão simbólica. Os símbolos, como ensinou o filósofo Robert Nozik, tem um valor independente das ações a que eles se vinculam. Qualquer governo tenta sempre parecer moderno (Roseana Sarney renomeou seus secretários como “gerentes”). Voltando ao bônus, um dia esse fetiche vai acabar. Mas esse dia ainda parece estar longe.

E quase 1/4 dos consumidores aumentou o consumo de água…

Reinventando as organizações

Uma tendência muito forte está se delineando na Administração e eu acredito que ela será determinante na forma de funcionamento e na estrutura das organizações no futuro próximo. Essa tendência se manifesta por meio de novas arquiteturas organizacionais e novas relações de poder que favoreçam a colaboração horizontal e a busca pela inteligência coletiva na solução de problemas, no enfrentamento de desafios e no alcance dos objetivos organizacionais.

Dois textos são indicados a seguir. No primeiro deles, que é um resumo do encontro do Fórum Global Peter Drucker ocorrido na semana passada, fica claro que o modelo mental que ainda comanda 99,99% das organizações não serve mais e quais os caminhos que podem ser seguidos. Recomendo fortemente a leitura:

http://www.forbes.com/sites/stevedenning/2013/11/18/a-new-center-of-gravity-for-management/

O segundo deles é um exemplo prático da aplicação desses conceitos. É um texto da revista Exame, mostrando a aplicação de redes sociais nas empresas para a solução de desafios e para a inovação.

http://exame.abril.com.br/gestao/noticias/como-redes-sociais-corporativas-podem-estimular-a-inovacao

Quando sua opinião depende do que lhe interessa

“It is difficult to get a man to understand something, when his salary depends upon his not understanding it!” Upton Sinclair, escritor, falando de um fenômeno que viria a ser conhecido na literatura de psicologia social como viés de confirmação, self-serving bias ou my side bias, dependendo do caso. O fenômeno é mais poderoso na medida em que essa influência ocorre basicamente de forma automática e não consciente.

Organizações ambidestras

Cada vez mais se questiona o papel de arquiteturas organizacionais tradicionais (isto é, como as organizações se estruturam formalmente), tendo em vista o reconhecimento de que essas estruturas não conseguem lidar bem com os desafios ambientais e os paradoxos da gestão contemporânea. Essa seção aqui do Harvard Working Knowledge (http://hbswk.hbs.edu/item/7282.html) sempre pergunta aos leitores a opinião sobre assuntos como esse e, ao final, faz um resumo do tema. Eu, sinceramente, acho que o caminho apontado pelo professor de Harvard John Kotter é promissor tanto para organizações privadas como públicas. Vejam o que ele disse (traduzi):

John Kotter sugeriu recentemente que as organizações bem-sucedidas do futuro terão de ter, ao mesmo tempo, hierarquias tradicionais para lidar com seus negócios centrais e redes que serão mais adequadas para lidar com as novas oportunidades. Isso vai requerer líderes que possam construir e gerenciar “sistemas operacionais duplos”, colocando nas redes de inovação pessoas voluntárias da hierarquia existente. Isso vai requerer também uma coalizão de liderança para coordenar a direção estratégica dos esforços dessa rede de inovação com a estratégia geral perseguida pela hierarquia convencional.

Kotter defende que a mesma organização seja integrada pelas duas estruturas, uma mais tradicional e a outra, maleável. É o que se tem chamado também, com algumas variações, de abordagem ambidestra nas organizações. A ideia é, enfim, ter estruturas organizacionais maleáveis, que possam ser “montadas” e “desmontadas” de acordo com as demandas do ambiente e os desafios estratégicos.

O texto é curto e vale a pena ler (clique aqui: http://hbswk.hbs.edu/item/7282.html)

O dinossauro da avaliação de desempenho

A consultoria Deloitte trouxe esse pequeno artigo (https://www.deloitte.com/view/en_US/us/Insights/Browse-by-Content-Type/deloitte-debates/aead610de9aa0410VgnVCM1000003256f70aRCRD.htm), discutindo os prós e contras da avaliação de desempenho nas empresas. É pequeno mesmo e vale a pena ler.

Esse é um assunto ainda pouco resolvido na administração pública, em especial na brasileira.

Chamou-me a atenção o foco do artigo da Deloitte em 2 aspectos muito importantes em se tratando de relacionamento nas organizações: a necessidade de focar nas forças pessoais dos colaboradores como alavanca para a mudança de desempenho e a necessidade de incrementar a frequência do feedback.

Em se tratando de tempo, a decisão estratégica é sobre o que não deve ser feito

A administração do tempo é vital para conseguirmos trabalhar de acordo com os objetivos estratégicos considerados importantes nas organizações. Muitas vezes, por exemplo, a gestão de pessoas não é feita da maneira adequada porque os incêndios e o trabalho operacional dominam o nosso cotidiano. Isso se aplica também para outras atividades estratégicas, como a gestão de processos, inovação etc.

Esse é um problema mundial. Pesquisa recente da renomada consultoria McKinsey mostrou que apenas 52% dos CEOS conseguem usar seu tempo de acordo com as prioridades estratégicas de suas organizações.

Como escapar dessa armadilha, que também se estende para nossa vida pessoal?

O boletim de janeiro de 2013 da McKinsey trouxe um artigo bem interessante, no qual o autor destaca:

– Dado o fluxo interminável de informações e demandas, escolher o que não fazer é a atividade estratégica mais importante em se tratando de gerenciamento do tempo

– Uma abordagem eficiente é escolher 5 áreas para focar em 1 ano e dedicar 95% do tempo a elas, pois é impossível manter o foco com um número maior de prioridades

– Por sua vez, as 5 áreas dos profissionais que se reportam a você devem ser decorrência direta das suas 5 áreas. É aí que está a chave para o alinhamento e encadeamento de estratégias e ações

– Com base nesse alinhamento, gerencie seus profissionais com base nessas prioridades sem incorrer no erro do microgerenciamento.

O artigo, que é bem curto e direto, pode ser lido no site do autor:

http://peterbregman.com/articles/a-personal-approach-to-organizational-time-management/