O consumismo nosso de cada dia

Um fenômeno moderno, que vem se acelerando nos últimos anos, é o crescente custo (e sofisticação) de eventos e produtos do dia a dia. Por exemplo, antes da moda dos famigerados buffets infantis, as festas da criançada tipicamente envolviam chamar os melhores amigos para uma festinha simples com bolo e brigadeiro caseiros. Não me lembro em que momento os buffets passaram a ser tão presentes nas cidades brasileiras…. Leia o artigo completo aqui.

 

O dia em que a Terra parou!

O economista da Universidade de Cornell Robert Frank defende em livros como “Darwin Economy” e “Luxury Fever” que, movidos por motivos puramente evolucionários, os seres humanos vão sempre querer consumir mais e buscar uma posição superior (social ranking) na sociedade em que vivem. De fato, as evidências (pelo menos com públicos ocidentais) são claras no sentido de que o motivo que os psicólogos evolucionistas identificam como “status seeking” guia escolhas profissionais, padrões de consumo e avaliações sobre a satisfação com a vida. Para Frank, como essa tendência é irreversível, deveríamos, em vez de tributar a renda, tributar diretamente o consumo. Assim como fazemos o ajuste anual do imposto de renda, o mecanismo por ele proposto levaria em conta a renda anual menos os investimentos comprovados, tributando todo o resto como consumo, com faixas de isenção para os mais pobres. Utópico? Irrealista? Frank entende que isso estimularia o investimento que, por sua vez, poderia ser direcionado para obras de interesse público, sustentando, assim, o nível de atividade econômica, que hoje é excessivamente dependente do consumo das famílias. Eu não tenho conhecimento suficiente para avaliar a proposta dele. Porém, fiz toda essa introdução para compartilhar com vocês um capítulo de livro fantástico, imperdível para os que têm interesse no tema, em que o professor de administração do MIT John Sterman, um dos grandes nomes do pensamento sistêmico, mostra como o padrão de expansão da espécie humana e seu padrão de consumo são completamente incompatíveis com o que o planeta pode nos oferecer e que termos como “crescimento sustentável” são claros oxímoros. A análise dele sugere, de forma bastante convincente, que não é possível crescer para sempre. Vale a pena ler, para conhecer os conceitos principais do conhecimento sistêmico aplicados a um problema real, tratando, ainda, de soluções para a tragédia dos comuns e temas correlatos. Leia aqui.

O Japão talvez seja um bom experimento para o que nos aguarda. Provavelmente só evitaremos a catástrofe com uma população mundial menor. Mas o que fazer quando a população de um país desenvolvido encolhe? Como manter ou redirecionar serviços públicos em um contexto marcado por altos custos no sistema de saúde? Como continuar prestando serviços públicos com qualidade em um cenário de crescimento econômico estagnado ou declinante, com menores receitas de impostos? Vai ser necessário, entre outros pontos, repensar totalmente os sistemas de previdência, por exemplo. Um grande entrave é a necessidade de modelos mentais adequados e de governança política racional, pois essas questões podem facilmente descambar para o populismo e para debates emocionais.

Água cara como o petróleo?

Apesar das piadinhas de sempre, o aquecimento global é um fato aceito pela maioria absoluta dos climatologistas. O modelo climático elaborado por cientistas do MIT prevê alguns cenários, um deles com consequências catastróficas. Melhor torcer para que as consequências não sejam tão graves. A iniciativa da SABESP de dar desconto a quem economiza é claramente insuficiente. Falta uma abordagem de marketing social (leia mais sobre isso aqui), que considere a ação de outros fatores causais do comportamento humano. Há claramente oportunidades para agir sobre drivers como a identidade e as normas sociais. Mas voltando ao aspecto econômico, provavelmente o preço da água em cidades como São Paulo terá de sofrer um choque de oferta, pela sua provável escassez daqui por diante – ou pelo aumento dos custos em trazê-la de mais longe. Em outras palavras, precisará ficar mais alto. Um choque mais ou menos como aconteceu com o petróleo na década de 70. A acompanhar.

Global warming and tax structure: Robert Frank’s proposal

In his books (“Luxury Fever” and “Darwin Economy”), Robert Frank argues (based on compelling data) that the great and inescapable villain of overconsumption is the ever growing demand for positional goods. According to him, this is such a powerful and inescaple force inasmuch as we human beings are driven to signal status. The process neatly resembles darwinian processes in Nature, such as the size of peacock tails and the size of trees in a forest – collectively there is a great waste of resources but individually the more an individual gets prominence the better for it/him. So over the last decades we have been paying astoundingly and increasingly more for weddings, bigger houses, domestic appliances and so on (the more visible the status mark of the good the more pronounced the phenomena). This trickles down from upper classes to middle classes and the net result is an enormous waste of resources, a shrinking portion of savings in families budgets and the spreading of this consumption patterns to aspiring upper and middle classes throughout the World (think about China). Individual efforts to resist this trend are thought to be doomed in the same sense as if a peacock had a shorter tail (it would never passes its genes). Frank asks: who would be chosen by a prospective client, given similar rates and the typical absence of knowledge about their effective competences: a lawyer driving a used Hyundai or a lawyer driving a Ferrari? That is, the incentive to seek positional goods is practically irresistible: they signal status and competence, they are a ticket to better schools (houses in good neighborhoods in the US) and they are perceived as the dominant social norm (expensive weddings, birthday parties etc.).
The solution proposed by Frank is to tax progressively consumption instead of income, of course exempting a given range of consumption to avoid taxing the poor. It is a radical idea but apart from demarketing and a change in social trends (i.e. a change in Zeitgeist) I have not seen any other way to curb the overconsumption that is contributing to global warming and risking the future of our planet. The way to operationalize it would be relatively simple (as people file their incomes data annualy… they would have only to inform income and savings; the difference would be their consumption). In the Brazilian incredibly complicated tax system, we tax income and consumption but in the later case with an evil twist: the taxes are “invisible” – they are hidden in each product retail price. From my perspective, Frank’s solution makes great sense. His idea makes sense to curb overconsumtion, to increase savings and investments and to optimize societal use of resources (desincentivizing current levels of conspicuous consumption – a trend that has taken root even in Brazil) while maintaining individuals rights to use their money as they please. But his idea demands also a radical shift in the mental models we citizens share.
I think Frank’s account on the mechanism fueling overconsumption is partial, however. A memetics approach would complement his account. Keith Stanovich and Daniel Gilbert have discussed properly this aspect. In a later post I intend to return to their ideas.

Aquecimento global

Terminei de ler o excelente “The signal and the noise”, escrito pelo estatístico americano Nate Silver. No livro, as tentativas de previsão em diversas áreas são analisadas, com seus sucessos e fracassos. O autor analisa áreas como os esportes, o mercado acionário, as eleições e o clima. O capítulo sobre aquecimento global deveria ser lido por todos aqueles seriamente interessados no tema. Reportagem da revista Veja de algumas semanas atrás trouxe uma visão muito superficial e incorreta sobre o assunto, dando a entender que tudo foi um modismo de alguns radicais verdes que passou. Não foi. O assunto é sério demais para ser tratado dessa forma. O risco é real e, quanto mais demoramos a agir, mais os efeitos deletérios da ação humana sobre o clima se acumulam. O livro de Silver trata o tema com o equilíbrio necessário. Vale a pena ler. Recentemente li também o último livro do economista (da Universidade de Cornell) Robert Frank – “Darwin economy”, em que ele menciona o modelo climático do MIT. Esse modelo trabalha com alguns cenários – em um deles, com 10% de probabilidade estimada, a vida como conhecemos neste planeta seria inevitavelmente comprometida. Até quando vamos fingir que o problema não existe?