O que é melhor? Ter o rodízio de água 4 x 2 ou ter a escassez da água refletida no preço? O rodízio me parece uma solução pior. Quem pode está correndo feito louco para comprar caixas d’água adicionais. Vi a notícia de um restaurante no centro de São Paulo, que adquiriu uma caixa extra de 7.000 litros e, não tendo onde a colocar, estacionou-a no meio do salão. Li também que as vendas de caixas d’água explodiram nas lojas de materiais de construção. Se eu fosse uma indústria ou um agricultor que dependesse muito de água, estaria fazendo o mesmo. Estabeleceu-se uma verdadeira “tragédia dos comuns”, fenômeno em que a maximização do interesse individual é a melhor opção para cada agente econômico, às custas do bem comum. Está sendo favorecido quem pode mais, quem tem mais recursos. Sem água, muito provavelmente agricultores vão passar a recorrer a fontes suspeitas (como poços artesianos contaminados). Vai explodir a venda de utensílios de plástico (pratos, copos etc.), aumentando ainda mais a contaminação do ambiente. Os efeitos negativos são diversos e tendem a piorar a situação. O forte aumento de preços, que venho defendendo (em boa companhia, como a do ex-presidente da Sabesp Gesner de Oliveira), por outro lado, serviria para forçar indústrias a acelerar projetos de reúso da água, condomínios residenciais a implantar a medição individualizada (que hoje demora a se pagar) e todos os agentes a racionalizar de verdade seu consumo. Evidentemente, por meio do sistema de cobrança da empresa de água seria possível estabelecer aumentos diferenciados por faixa de renda, poupando um pouco os mais pobres. Mas o forte aumento de preços, refletindo a extrema escassez do recurso, tenderia a manter a água disponível para todos, causando, do meu ponto de vista, menos prejuízos à sociedade. Mais medidas são necessárias, em outras frentes (tratei de parte delas em artigo recente). Incomoda-me, como cidadão, que a emergência da situação não esteja sendo comunicada à população adequadamente. O cenário provável nos próximos meses é ainda mais sombrio do que a maioria das pessoas acredita. Pior ainda é ver o governador de outro estado recorrendo a um “espírito” para ajudar a resolver o problema.
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Marketing social e a falta de água
Por que alguns jovens começam a fumar e a beber? Por que pais levam seus filhos, sem muita relutância, para se entupir de junk food em conhecidas cadeias de lanchonete? Como usar os conceitos de gestão que explicam (em boa parte) esses comportamentos no enfrentamento da crise hídrica em São Paulo? Explico isso neste artigo aqui.
A água precisa custar caro!
Como comentei em outro post (leia aqui), escrito há cerca 6 meses (no início da crise), a atual crise da água em São Paulo demanda medidas inéditas, porque estamos diante de um cenário inédito. Listei naquele post diversas sugestões a partir de experiências internacionais com a gestão de recursos escassos. Um ponto que sugeri ali e que hoje está mais claro do que nunca é a necessidade de o preço da água refletir sua escassez. O preço precisaria estar bem mais alto do que os níveis atuais, tanto para reduzir a demanda quanto para incentivar soluções como a mensuração individualizada em condomínios (que hoje demora demais para se pagar) e o reuso em indústrias. Evidentemente, podem ser feitos ajustes para não penalizar muito os consumidores residenciais de baixa renda. Estamos caminhando para o colapso do abastecimento e soluções como o desconto na conta de água são claramente insuficientes. Para saciar o desejo de justiça dos consumidores, todo o sobrepreço cobrado no momento de crise deveria ser direcionado para obras emergenciais e contenção dos vazamentos na rede de água. Em se normalizando a situação, o preço voltaria a patamares não emergenciais. Fica a sugestão para a Sabesp e o governo do estado de São Paulo.
Água cara como o petróleo?
Apesar das piadinhas de sempre, o aquecimento global é um fato aceito pela maioria absoluta dos climatologistas. O modelo climático elaborado por cientistas do MIT prevê alguns cenários, um deles com consequências catastróficas. Melhor torcer para que as consequências não sejam tão graves. A iniciativa da SABESP de dar desconto a quem economiza é claramente insuficiente. Falta uma abordagem de marketing social (leia mais sobre isso aqui), que considere a ação de outros fatores causais do comportamento humano. Há claramente oportunidades para agir sobre drivers como a identidade e as normas sociais. Mas voltando ao aspecto econômico, provavelmente o preço da água em cidades como São Paulo terá de sofrer um choque de oferta, pela sua provável escassez daqui por diante – ou pelo aumento dos custos em trazê-la de mais longe. Em outras palavras, precisará ficar mais alto. Um choque mais ou menos como aconteceu com o petróleo na década de 70. A acompanhar.